sexta-feira, 6 de novembro de 2009

CENTENÁRIO DE DOM HÉLDER CÂMARA

"A maneira de ajudar os outros é provar-lhes que eles são capazes de pensar."
"É graça divina começar bem. Graça maior persistir na caminhada certa. Mas graça das graças é não desistir nunca."
SEMEADOR DE PALAVRAS
DIÁRIO DE PERNAMBUCO

Recife, 14 de abril / 2009.

Cartas escritas por Dom Helder Camara para as pessoas que o auxiliaram em ações pastorais são lançadas hoje e revelam um pouco mais do arcebispo

Dom Helder Camara foi um homem de palavras. O que costumava pronunciar repercutia mundo afora. E debate e polêmica. Há, porém, parcela de suas palavras pouco conhecida. São as cartas circulares, escritas pelo sacerdote cearense para as pessoas que o auxiliaram em ações pastorais nas arquidioceses de Olinda e Recife e do Rio de Janeiro. Centenas dessas cartas estão reunidas em dois volumes a serem lançados hoje. Cada volume é dividido em três tomos. As cerca de duas mil páginas se não revelam por completo quem era Helder Camara elucidam, reforçam o pensamento e a maneira de agir daquele que comandou a Igreja Católica local por 21 anos.
Nas cartas, dom Helder, em parágrafos quase sempre curtos, analisa o desenrolar do Concílio Vaticano II, realizado entre 1962 e 1965. Apresenta aos remetentes, homens e mulheres da batizada Família Mecejanense, preocupações com a pobreza e as injustiças sociais e com os caminhos do golpe militar no Brasil. Entre as inquietações, as prisões de amigos e militantes merecem destaque. Ao saber da prisão de um presidente de sindicato, em 1965, o arcebispo escreveu que se tratava de um grande cristão. "Revolta ouvir o que ele teve que escutar... O primeiro ímpeto seria recorrer à TV e denunciar os abusos, citando nomes. Mas não posso ser homem de ímpetos, embora não deva também ser homem de prudências", desabafou. As prisões de Paulo Freyre, Antônio Baltar, Anita Paes Barreto e Rui Frazão também são tratadas nas cartas.
O olhar de dom Helder é fundamentado em sua fé. Para Zildo Rocha, organizador de um dos volumes, a leitura das "cartas é uma catequese viva da mensagem cristã, ou do que possa significar ser cristão na prática, nos dias de hoje", sustenta. Tal prática, diga-se, é exercício citado corriqueiramente nos escritos. Cabe o exemplo das prostitutas. Numa de suas cartas, dom Helder lembra ter recebido uma comissão formada por tais mulheres. Elas foram pedir a intervenção do arcebispo, pois a polícia pretendia interferirna tabela de preços cobrada pelas prostitutas aos clientes. "Tão novas, tão ingênuas, tão bonitas, minhas pobres e queridas Irmãs!", descreve. Por fim, dom Helder afirma que as visitantes eram ouvintes dos programas do arcebispo no rádio e, contraditoriamente, tinham a Imaculada (Virgem Maria) como a santa mais querida.
A compaixão e o envolvimento do arcebispo com os pobres, como mostram as cartas, levava muita gente à morada episcopal. Até bêbados recorriam a dom Helder. Ao conversar com um desses, dom Helder foi chamado de "bêbado honorário". O título foi atribuído, segundo o arcebispo, porque o visitante afirmava que somente quem bebia muito era capaz de compreender os bêbados. A preocupação de dom Helder com os pobres passava também por sua residência no Palácio dos Manguinhos, bairro das Graças (Recife). "Os pobres vêm ao Palácio. Sentem, no bispo, um pouco o Pai, mas, sobretudo, o prestígio, a força, a influência, o homem que resolve, que tem recursos, que manda nos grandes... Não veem um igual, um irmão", avalia. Meses depois de escrever isso, dom Helder troca o palácio pela igreja das Fronteiras.
Os dois volumes agora publicados pela Companhia Editora de Pernambuco, somam-se ao lançado em 2004, com 121 cartas circulares. Mas o universo de cartas de dom Helder, contabilizando-se o que foi escrito durante, entre uma e outra e após as sessões do Concílio Vaticano II, totalizam 2.122. Os volumes lançados hoje foram organizados por Zildo Rocha e Luiz Carlos Marques Luz e contam com a chancela do governador Eduardo Campos. Para este, a obra faz jus à história de dom Helder Camara, cujo centenário de nascimento é comemorado neste ano.
ServiçoLançamento dos livros Circulares Conciliares e Circulares Interconciliares, da Coleção Obras Completas de Dom Helder CamaraQuando: Hoje, às 19hOnde: Arcádia Paço Alfândega (Rua da Alfândega, 35, bairro do Recife)Informações: 3424-1400


14.04.2009 - As palavras do Dom chegam às mãos dos fiéis Publicado no Jornal do Comércio em 14.04.2009
Cerca de 600 cartas redigidas por dom Helder Camara, entre 1962 a 1965, foram reunidas em seis livros que serão lançados hoje
Margarida Azevedo mazevedo@jc.com.br
Quase diariamente, durante suas vigílias nas madrugadas de outubro de 1962 a setembro de 1965, dom Helder Camara, como bispo auxiliar do Rio de Janeiro e depois como arcebispo de Olinda e Recife, escreveu cartas para um grupo de amigos que ele carinhosamente chamava de família. Os textos trazem relatos preciosos e inéditos dos bastidores do Concílio Vaticano II (1962 a 1965), realizado em Roma, Itália, no importante encontro de líderes religiosos que mudou os rumos da Igreja Católica no século passado. Também contam o dia a dia e as impressões do sacerdote no primeiro ano que chegou à capital pernambucana. As cerca de 600 cartas deste período foram reunidas em seis livros que serão lançados hoje à noite, às 19h, no Arcádia Paço Alfândega, no Bairro do Recife.

As palavras do Dom chegam às mãos dos fiéis.

A publicação das Obras completas de Dom Helder Camara faz parte das comemorações do centenário do arcebispo, celebrado este ano. Mais que descrições do que estava vivendo, as cartas do Dom da Paz são um rico documento para historiadores, membros da Igreja Católica, admiradores e leitores interessados em aprender e se aprofundar no pensamento de um dos mais importantes líderes religiosos do século 20. “A publicação dessas obras é um acontecimento literário, cultural, nacional, mundial e religioso. Sou daqueles que têm a convicção de que os escritos de dom Helder ainda serão fonte de inspiração na América Latina daqui a mil anos”, ressaltou, no prefácio de um dos livros, o padre e teólogo José Comblin.

As missivas foram agrupadas em dois volumes, cada um com três tomos. No primeiro estão as circulares conciliares, redigidas durante a realização do Concílio Vaticano II. A organização ficou a cargo de Luiz Carlos Luz Marques e Roberto de Araújo Faria. O segundo volume compreende as circulares interconciliares, escritas por dom Helder nos intervalos entre as quatro sessões do concílio. Coube a Zildo Rocha organizá-las.

Nos textos conciliares, o leitor vai encontrar detalhes de como foram as reuniões em Roma. Longe de ser uma leitura enfadonha, as cartas descrevem os acontecimentos das reuniões e trazem reflexões pessoais de dom Helder, que também comenta livros que está lendo, escreve poesias e meditações. Questionado se haveria cartas mais significativas, o historiador Luiz Carlos Marques responde que não. “Como as circulares falam de tudo, desde os momentos de alta espiritualidade de dom Helder, sua piedade pessoal, sua preocupação pelos pobres, sua atenção com amigos, seus estudos, sua visão político-social e sua visão da Igreja, cada leitor encontrará páginas memoráveis em relação aos mais diversos temas”, observa.

Nas cartas interconciliares, dom Helder fala mais sobre o Recife e as cidades da Região Metropolitana e seu trabalho pastoral. “As cartas narram os primeiros contatos do novo arcebispo com a realidade eclesiástica e sócio-política de sua arquidiocese, trazem consigo um mundo bem mais próximo e familiar. É a vida mesma da cidade em seus diversos estratos e aspectos religioso, econômico, político, social, cultural”, destaca Zildo Rocha.
Os livros foram editados pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), com os originais cedidos pelo Instituto Dom Helder Camara (IdHec). A boa notícia é que cinco professores da Universidade Católica de Pernambuco começaram a trabalhar nas cartas pós-conciliares (são mais 600 textos, aproximadamente), escritas pelo Dom depois de 1965. A presidente da Cepe, Leda Alves, garante que há interesse da companhia em publicá-las. Resta ao público torcer para que novas palavras de dom Helder cheguem logo às livrarias.

11.04.09 - 45 ANOS DA CHEGADA DO BOM PASTOR A PERNAMBUCOOs católicos de Olinda e Recife saíram às ruas para celebrar a chegada do seu Pastor, naquele 11 de abril de 1964. Mesmo sob o trauma dos últimos acontecimentos - a prisão de militantes considerados “de esquerda”, inclusive o Governador de Pernambuco, Miguel Arraes – uma multidão acorreu para os locais por onde passaria o cortejo vindo do aeroporto dos Guararapes e aplaudiu, pediu bênçãos, gritou pelos caminhos, a felicidade de estar recebendo aquele Arcebispo tão contraditório na sua aparência frágil e na fortaleza de suas palavras e ações, como o fora no Rio de Janeiro.
O povo pernambucano interrompia, de vez em quando, a passagem de Dom Helder Camara pelas ruas, com o coração cheio de esperanças de um fecundo tempo de paz no seu pastoreio!
Naqueles instantes de festa popular pública, ninguém seria capaz de imaginar o que haveria de vir, nos anos que se seguiriam, iluminados pela sua presença inesquecível e pela forte repressão de que seria alvo... Certamente, a premonição da maioria guiou seus passos para a festa da chegada!
Na praça em frente à Igreja do Santíssimo Sacramento / Matriz do bairro de Santo Antônio, a multidão ouviu, respeitosamente, o seu pastor. E suas palavras calaram profundamente em cada um, embora inquietassem a outros... Suas verdades mudariam para sempre os rumos da Igreja Católica no Nordeste.
“Ninguém se espante me vendo com criaturas tidas como envolventes e perigosas, da esquerda ou da direita, da situação ou da oposição, anti-reformistas ou reformistas, anti-revolucionárias ou revolucionárias, tidas como de boas ou de má fé. Ninguém pretenda prender-me a umgrupo, ligar-me a um partido, tendo como amigos ou seus amigos e querendo que eu adote as suas inimizades. Minha porta e meu coração estarão abertas a todos, absolutamente a todos. Cristo morreu por todos os homens: a ninguém devo excluir do diálogo fraterno.”(Discurso de posse, abril / 1964).
No dia seguinte – 12 de abril - em solene liturgia realizada na Basílica do Carmo do Recife, diante da imagem da padroeira da capital pernambucana, Dom Helder tomava posse da Arquidiocese de Olinda e Recife, como seu 30º Bispo e 6º Arcebispo. Humildemente, usaria o báculo de madeira do seu Bispo Auxiliar, o também inesquecível Dom Lamartine Soares... Nem isso ele possuía, então!
Hoje, dia 11 de abril de 2009, 45 anos mais tarde, lembramos, com muita saudade aqueles dias de 1964, quando vivemos todos – membros dessa Igreja que ele representava – o presente que nos fora reservado, na designação de um santo e ativo homem de Deus, como Pa5stor de nossas vidas!
Que bom que isso um dia aconteceu!
Do Blog http://www.marietaborges.com/

02.04.09 - Dom Helder Câmara
No dia 15 de abril, às 15h, no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, haverá uma sessão comemorativa do centenário de nascimento de dom Helder Câmara, sob a coordenação do doutor Victorino Chermont de Miranda. Será uma tarde inteira dedicada a vida e obra de dom Helder.
Para mais informações clique aqui.

31.03.09 - ENCONTRO DE MOVIMENTOS POPULARES EM HOMENAGEM A DOM HELDER
Está previsto, dentro da programação do centenário de Dom Helder Câmara, um grande encontro dos movimentos criados por Dom Helder e daqueles surgidos posteriormente.
Esta homenagem dos Movimentos Populares ao Dom Helder vai se realizar no próximo dia 12, domingo de Páscoa, data em que se comemoram os 45 anos da chegada do Dom ao Recife.
- Local: quadra do Colégio Salesiano (que tantas vezes acolheu o Encontro de Irmãos)
- Hora: a partir das 15 horas
- Celebração em torno do discurso de posse do Dom, inclusive com a leitura de pequenos e significativos trechos.
- Roteiro a ser seguido:
- movimentos populares, que vão dar um testemunho - grupos vão animar com os cantos mais significativos daquela época- roteiro elaborado por Reginaldo Veloso- participações: CENDHEC, MTC, Encontro de Irmãos, Jovens do Meio Popular, Trapeiros de Emaús, Mulheres contra do desemprego, Cursilho, Casa de Frei Francisco, Grupo Igreja Nova, Tururu, Operação Esperança (engenhos), SERTA, Caritas, IDHeC e outros que venham a ser mobilizados.

30.03.09 - Revista de Teologia e Ciências da Religião lançará amanhã, edição sobre Dom Helder
A Revista de Teologia e Ciências da Religião, organizada pela Universidade Católica de Pernambuco, será lançada amanhã 31, às 19h, no auditório da Livraria Cultura Recife. O tema da publicação é “O Século de Dom Helder”, em homenagem ao centenário do ex-arcebispo de Olinda e Recife.
Na ocasião, também, será realizado o debate “Helder Câmara, o Dom da Paz”. O evento contará com a presença do Reitor da Católica, Padre Pedro Rubens, e dos professores Newton Darwin de Andrade Cabral e Luiz Carlos Luz Marques, ambos professores da Unicap além de representantes da CNBB e Arquidiocese de Olinda e Recife.
Para assinar a revista clique aqui.

16.02.09 - Câmara dos Vereadores de Olinda homenageia Dom Helder Câmara
Nesta quinta-feira (12), Dom Helder Câmara recebeu homenagem da Câmara dos Vereadores de Olinda. O Pró-reitor Comunitário da Católica, Padre Miguel Martins, representou a Universidade, uma das entidades organizadoras das cerimônias pelo centenário do religioso.
Durante o evento, Padre Miguel Martins tratou da importância de Dom Helder para Pernambuco, o Nordeste e o Brasil. “Ele atravessou o século XX, sempre trazendo uma palavra profética, de chamada de atenção às questões da justiça, da superação da pobreza e da promoção da dignidade humana. O mais bonito de Dom Helder é isto: ele traduz a religião, a fé e a mística na concretude da própria vida”, declarou.
Sobre a iniciativa dos vereadores de Olinda, Padre Miguel avalia: “Nada mais justo do que essas homenagens - tanto daqui quanto a da Câmara do Recife, - a quem foi arcebispo destas cidades por tanto tempo e marcou da maneira como ele fez”.

07.02.09 - Homilia do presidente da CNBB na missa do centenário de nascimento de dom Helder Câmara
Nesta comemoração do centenário de nascimento de Dom Helder Câmara, damos graças a Deus pelo dom de sua vida, repleta de sabedoria, profetismo e doação à Igreja e aos irmãos. Neste momento especial de graça, “ofereçamos da Deus, por meio de Jesus, um perene sacrifício de louvor” (Hb 13,15) como ouvimos na primeira leitura, tirada da Carta aos Hebreus.
Aos 90 anos de idade, em 1999, Dom Hélder partiu para o encontro definitivo com o Pai. Mas, aqui na terra, ele já estava “em suas mãos”, conforme dizia seu lema episcopal. Um de seus poemas expressa bem sua postura mística diante da hora final: “Um dia para cada um de nós/ O sol se erguerá pela última vez./ Luz, minha irmã,/ Não haverá meios de avisar-me/ que chegou meu último dia?/ Ou o melhor ainda é o conselho evangélico:/ de viver cada dia/ como se fosse o último,/ Ou ainda melhore/ Como se fosse sempre o primeiro...”.
Dom Helder nasceu em Fortaleza, aos 7 de fevereiro de 1909; foi o décimo primeiro filho do casal João Eduardo Torres Câmara e Adelaide Rodrigues Pessoa. Aos 14 anos ingressou no Seminário da Prainha, em Fortaleza, onde fez seus estudos em preparação para o sacerdócio. Muitas vezes Dom Hélder contou que, quando ele avisou para a família que queria ser padre, seu pai o advertiu: “meu filho, ser padre é coisa muito séria; padre e egoísmo não se unem”. Com os padres lazaristas holandeses do Seminário, aprendeu que seu nome “Helder’ significava: “sem nuvens, límpido, sem complicações”. Era assim que ele queria ser.
Com poucos anos de sacerdócio, padre Hélder partiu de Fortaleza para o Rio de Janeiro, onde foi recebido, com carinho, pelo Cardeal Sebastião Leme. Na então capital da República, realizou sua missão durante 28 anos, com abundantes e excelentes frutos.
No início, padre Hélder trabalhou, sobretudo, no campo da educação. Depois, dedicou-se a outras atividades pastorais: criou o Banco da Providência e a Cruzada São Sebastião onde dava passos definidos para viver sua opção pelos pobres. Como assistente da Ação Católica especializada tornou-se grande incentivador da formação de um laicato maduro, a serviço do Reino de Deus.
Em 1952, foi nomeado bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro. Foi ele o fundador da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, dez anos antes do Concílio Vaticano II. Em 1955, por ocasião do Congresso Eucarístico Internacional do Rio de Janeiro, participou ativamente da fundação do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), juntamente com Mons. Manuel Larraín, Bispo de Talca, no Chile. Na CNBB, exerceu o cargo de secretário geral por 12 anos. Seu ministério episcopal foi marcado pelos sentimentos de Jesus que “vendo numerosa multidão, teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor” (cf. Mc 6,30-34) como nos disse o evangelho há pouco proclamado.
Em 1964, durante o Concílio Vaticano II, Dom Helder foi nomeado Arcebispo Metropolitano de Olinda e Recife. Doze dias após o golpe militar, ele assumia o pastoreio desta importante Arquidiocese, tendo a seu lado o admirável Bispo Auxiliar Dom José Lamartine soares. Dom Helder vai se firmando, sempre mais, como grande profeta, cuja palavra repercute para além de sua Arquidiocese e vai ecoar em todo o Brasil, em outros países da América Latina e chega até a diversas partes do mundo.
Dois fatores significativos acentuavam a importância fundamental da presença de Dom Helder naquele momento no Nordeste brasileiro: no campo socioeconômico, o golpe militar de 1964; no campo eclesial, o Concílio Ecumênico Vaticano II em sua extraordinária perspectiva de renovar a Igreja diante dos grandes desafios dos tempos atuais.
Durante o regime militar, Recife torna-se um dos campos de numerosas prisões por motivos políticos. Como em outras partes de nosso País, em Recife o clima de medo invadia a população e a repressão atingia as lideranças que não se dobravam diante da ditadura.
Para o regime militar, eram já conhecidas as posições de Dom Helder, tanto pela sua atuação na cidade do Rio de Janeiro, como pelos seus posicionamentos em nível nacional, especialmente na defesa dos direitos dos pobres, na promoção da justiça, da democracia e da liberdade de expressão.
Ao chegar à Arquidiocese de Olinda e Recife, Dom Helder dirige sua mensagem de pastora, abre o coração aos seus diocesanos e procura desarmar os espíritos. Sua primeira saudação é permeada de liberdade evangélica: “quem sou eu e a quem estou falando ou desejando falar – um nordestino falando a nordestinos, com os olhos postos no Brasil, na América Latina e no mundo. Uma criatura humana que se considera irmão de fraqueza e de pecado dos homens de todas as raças e de todos os cantos do mundo. Um cristão se dirigindo a cristãos, mas de coração aberto ecumenicamente, para os homens de todos os credos e de todas as ideologias. Um bispo da Igreja Católica que, à imitação de Cristo, não vem para ser servido, mas para servir...”. Sua mensagem estava embebida de sabor profético e de teor missionário. Apresenta-se como o bispo de todos ao explicitar sua postura pessoal e suas prioridades: “Minha porta e meu coração estarão abertos a todos, absolutamente a todos. Cristo morreu por todos: a ninguém devo excluir do diálogo fraterno”.
Dom Helder traz consigo uma bagagem de experiências acumuladas. Chega ao seu novo campo de ação pastoral com ouvidos abertos para ouvir, olhos atentos para enxergar e coração grande para acolher. Logo imprime o traço característico de sempre querer trabalhar em conjunto. Assume o pastoreio desta porção do Rebanho do Senhor, desejoso de ser fiel aos apelos da Igreja e ao sopro do Espírito no meio de um povo que espelha o rosto do Cristo Sofredor, como descreveram os bispos na Conferência de Puebla, em 1979. Com audácia evangélica, Dom Helder repetia: “Quem é despertado para as injustiças geradas pela má distribuição da riqueza, se tiver grandeza d’alma captará os protestos silenciosos ou violentos dos pobres. E o protesto dos pobres é a voz de Deus”.
Seus pronunciamentos, homilia e iniciativas pastorais começam a incomodar o regime militar que o condenou, em 1970, a ser silenciado pelos meios de comunicação de todo o país. Um ofício dos militares que assumiam o Poder, dirigido a todos os órgãos de comunicação, os proibia de falar a favor ou contra Dom Helder. Não podiam mesmo citar o seu nome. Ele mesmo afirmava: “decretaram que eu não mais existia”. Mas, com certeza, muitas vezes vieram à mente e ao coração de Dom Helder as palavras do salmista que cantamos no salmo responsorial: “Ele me guia no caminho mais seguro, pela honra do seu nome. Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso, nenhum mal eu temerei. Estais comigo com bastão e com cajado, eles me dão segurança!” (Sl 22).
Se por um lado, a atitude dos militares limita sua ação de pastor diocesano, por outro lado, o lançava na missão profética além das fronteiras do Brasil, com convites insistentes para fazer conferências em muitas partes do mundo. Sua presença irradiava confiança e suas palavras sedimentavam a mística do compromisso evangélico. Sendo por vezes sinal de contradição, não deixava de ser sinal de esperança, sobretudo para os mais pobres e para todos aqueles que lutam pela justiça e pela paz.
Um dos fatos que lhe trouxe maior sofrimento foi o assassinato do padre Antônio Henrique Pereira Neto, a 27 de maio de 1969. Era ele um jovem sacerdote que trabalhar na pastoral da juventude estudantil. O trágico acontecimento queria atingir a Arquidiocese de Olinda e Recife e o seu Arcebispo.
Durante o Vaticano II, Dom Helder soube aproveitar a oportunidade dos contatos com todos os episcopados do mundo. Esse papel singular que soube desempenhar durante o Concílio lhe oferecia a possibilidade de tornar-se missionário do mundo, como peregrino da justiça e da paz.
Um relacionamento especial de amizade ele travou imediatamente com os bispos que tinham maior sensibilidade para a problemática do “Terceiro Mundo”. Neste contexto, surge o famoso grupo de bispos, provenientes de todos os continentes, que se encontrava, a cada sexta-feira, para refletir sobre a missão da Igreja junto aos pobres e a necessidade de a Igreja ser sinal do Cristo pobre. Ao final do Concílio, no dia 16 de novembro de 1965, quarenta bispos de várias partes do mundo reuniram-se numa catacumba em Roma e assinaram o Pacto das Catacumbas. Cada um assumia o compromisso de viver pobre, rejeitar as insígnias, símbolos e privilégios do poder e a colocar os prediletos de Deus no centro de seu ministério episcopal, explicitando assim a evangélica opção pelos pobres.
Dom Helder tinha como lema missionário o versículo da carta de São Paulo aos Romanos: “esperando contra toda esperança, como Abraão” (Rm 4, 18). Para tanto, em suas viagens internacionais, estimulava as minorias abraâmicas, - semeando grupos em todos os continentes. As minorias abraâmicas eram formadas por aquelas pessoas que esperavam, apesar dos pesares, com firmeza permanente, se comprometendo com a construção de uma sociedade justa e fraterna. Era a não violência ativa.
Nesta comemoração do centenário do nascimento de Dom Helder, ecoam, com sentido renovado, as palavras da Carta aos Hebreus que ouvimos há pouco: “Não vos esqueçais das boas ações e da comunhão, pois esses são os sacrifícios que agradam a Deus. O Deus da paz, que fez subir dentre os mortos aquele que se tornou, pelo sangue de uma aliança eterna, o grande pastor das ovelhas, nosso Senhor Jesus, vos torne aptos a todo bem, para fazerdes a sua vontade; que ele realize em nós o que lhe é agradável, por Jesus Cristo, ao qual seja dada a glória pelos séculos dos séculos. Amém!” (Hb 13,16.20-21).
* Homilia de Dom Geraldo Lyrio Rocha, arcebispo de Mariana (MG) e residente da CNBB, na missa do centenário de nascimento de dom Helder Camara, em Recife (PE), dia 7.2.2009
09.02.09 - Campanha "Eu também me chamo Helder".
A comissão que organiza as comemorações do ano Rumo ao Centenário de Dom Helder Camara - CNBB NE2, Arquidiocese de Olinda e Recife, Universidade Católica de Pernambuco e Instituto Dom Helder Camara (IDHEC) - por iniciativa do IDHEC, está lançando a campanha, “Eu também me chamo Helder”, para identificar, no Brasil e no exterior, quantas pessoas receberam o nome "Helder" em Homenagem ao Dom da paz.
As muitas pessoas que carregam o nome Helder, estão sendo convidadas a comunicar-se com o IDHEC, contando inclusive, o motivo de terem recebido este nome. “Tenho certeza que descobriremos muitas historias bonitas” afirmou a idealizadora da campanha, Marieta Borges, em reunião com a comissão que organiza as comemorações do centenário de nascimento do Dom, como é carinhosamente chamado, pelos mais próximos, até hoje.
O objetivo da campanha é fazer um levantamento de quantas pessoas foram batizadas com o nome Helder, já que, até o momento, não se tem notícia de nenhuma outra pessoa ter recebido este nome antes de Dom Helder.
Os muitos “Helders” devem preencher uma ficha com seus dados, e com um campo exclusivo para a colocação do motivo de ter recebido o nome e enviar, por e-mail ou por fax ao IDHEC.
Para baixar o modelo da ficha que deve ser enviado por e-mail clique aqui
29.01.09 - Prédio do MPPE no Recife terá nome de Dom Helder Câmara
A sede única do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), que será construída na Ilha Joana Bezerra, terá o nome de Dom Helder Câmara. A escolha feita pelo procurador-geral Paulo Varejão homenageia o ex-arcebispo de Olinda e Recife que dedicou toda a sua vida à defesa dos direitos humanos e aos pobres. Esta será a segunda homenagem prestada pela Instituição ao sacerdote que já empresta seu nome à sede da Promotoria de Justiça de Olinda.
“Dom Helder Câmara representa um símbolo da luta contra aqueles que durante anos no Brasil perseguiram lideranças políticas e religiosas, que se faziam presentes ao lado das pessoas oprimidas pelos governos militares de um período negro para as instituições democráticas do País", comentou Paulo Varejão.
O "Dom da Paz" – como era chamado o arcebispo que chegou ao Recife logo após o golpe militar de 1964 – apesar de sofrer perseguição dos governantes da época, não se intimidou e prosseguiu na sua luta em defesa dos pobres e oprimidos. Mesmo sendo proibido de falar à Imprensa brasileira, conseguia expressar suas idéias nas homilias das procissões tradicionais ou em conferências nas universidades e durante palestras no Exterior, para onde era convidado constantemente.
O homenageado nasceu em Fortaleza (CE) em 7 de fevereiro de 1909, tendo ingressado ainda jovem na vida religiosa. Foi Auxiliar do Rio de Janeiro onde criou o Banco da Providência, dando assistência às comunidades de baixa renda, conseguindo a construção de um conjunto habitacional para favelados, além de outras ações destinadas aos pobres. Entre outras coisas, a partir da década de 50, o bispo Helder Câmara foi um dos responsáveis pelo surgimento da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e da Conferência Episcopal Latino-Americana (Celam), assumindo corajosamente a linha do Vaticano II, que inclusive ajudou a implementar, da opção preferencial pelos pobres.
A CNBB Regional Nordeste 2, juntamente com o Instituto Dom Helder Camara, a Arquidiocese de Olinda e Recife e a Universidade Católica de Pernambuco estão preparando uma grande celebração para o dia em que Dom Helder completaria cem anos de nascimento.

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